Religião e direitos humanos
0Fonte: Estadão.com.br
22 de abril de 2013 | 2h 06
Os direitos humanos têm origem remota no discurso religioso, particularmente no cristianismo. A afirmação da fraternidade universal dos seres humanos, devida a serem todos filhos de um só Pai, e da liberdade também universal representada pelo resgate realizado pelo Salvador são uma raiz não negligenciável do longo processo em que nos inserimos. Contudo o desenvolvimento das liberdades modernas representou também uma ruptura com o passado religioso. As religiões organizadas resistiram quanto puderam ao novo ideal de autonomia dos sujeitos humanos e nos últimos 200 anos, pelo menos, opuseram-se sistematicamente, na teoria e na prática, ao avanço quer da liberdade, quer da igualdade.
No Brasil essa tensão foi subestimada porque nos anos de chumbo da ditadura certos líderes religiosos católicos, protestantes e judeus enfrentaram o arbítrio do regime militar. Se os nomes de dom Paulo, do rabino Sobel e do pastor Wright são imediatamente associados à defesa dos direitos humanos, isso não se generaliza: basta analisarmos a ambiguidade (para não dizer omissão ou conivência) da atitude de outros líderes religiosos e igrejas na América durante a última onda de autoritarismo.
Essa tensão se deve ao próprio caráter das religiões e, particularmente, de suas instituições, ou seja, das religiões organizadas. Elas pretendem ser abrangentes, potencialmente fundamentalistas ou integristas e proselitistas. Abrangentes e potencialmente integristas porque desejam incorporar todas as dimensões da vida moral de seus adeptos, de modo que se estes pertencerem a outras comunidades, não religiosas, como a comunidade política nacional, por exemplo, seus deveres para com sua religião e seus correligionários devem preceder seus deveres para com seus semelhantes que professam outro credo ou não professam credo algum, embora pertençam à mesma sociedade política. Fundamentalistas ou integristas porque almejam oferecer uma linha da qual seus adeptos não podem escapar e determinam todas as dimensões de sua vida. Proselitistas porque vivem da incorporação de novos adeptos, e não de uma sobrevivência vegetativa.
Aqui reside parte do perigo para a sociedade política. Para fazer prosélitos não temem semear divisões entre os cidadãos, e não divisões quaisquer: semeiam divisões de identidade, transferindo para a República distinções que, acreditam, serão afinal feitas pelo próprio Deus. Como pretendem ter com seu Deus um canal privilegiado de comunicação, se não ser mesmo suas representantes na Terra, antecipam no foro das instituições estatais e na legislação a separação que, supõem, a divindade fará no momento que julgar apropriado. Isso, note-se, mesmo diante de explícitas palavras, ou as palavras mesmas (ipsissima verba), de Jesus (“não julgueis…”).
A concepção de uma sociedade fundada em identidade não religiosa ou racial passou a ser inerente à própria ideia de direitos humanos. Ela tem por base a noção de que cada ser humano é moralmente livre: pode escolher seus ideais e sua forma de vida sem dar satisfações a autoridades ou vizinhos, desde que tal escolha não cause dano a outrem, ou, como dizia Thomas Jefferson em defesa da liberdade religiosa em sua Virgínia natal, “desde que não quebre minha perna nem furte minha carteira”. Tem ainda por fundamento outra noção: a de que o valor moral de todos é igual, não havendo por que discriminar moralmente quem pensa diferente, age diferente, tem uma religião diferente ou simplesmente é diferente. A igualdade universal, base do discurso dos direitos humanos, impõe que todos – independentemente de qualquer estado, escolha ideológica ou característica pessoal – recebam da autoridade pública exatamente o mesmo tratamento. Em resumo, esse ideal deixa cada um livre para perseguir seus próprios ideais absolutos, desde que não os identifique com os ideais da República.
Não foi por acaso que a afirmação dos direitos universais teve de se fazer historicamente contra as pretensões absolutas das concepções religiosas. Os direitos universais podem facilmente conflitar com as religiões porque afirmar a existência de direitos não significa apenas aceitar um sistema de conveniências políticas. Consiste numa proposta moral forte: moral crítica, pública, e não sobrenatural, tradicional ou revelada.
Na vida particular as pessoas aderem a religiões e num mundo plural como o nosso aderem a religiões diferentes. Em meio à insegurança, oferecem um importante conforto; em meio a desigualdades, diferentes religiões apelam a diferentes grupos sociais. Tendem a fazer apelos fortes. É tarefa dos líderes políticos zelar para que os mecanismos democráticos, republicanos e laicos, construídos longamente com o sacrifício de numerosas vidas, não sejam levianamente tratados por membros da mesma elite política, não sejam postos em risco por apelos populares ao sentimento de identidade homogênea. O crescimento da liberdade religiosa propicia também o crescimento dos conflitos entre religiões organizadas e o espaço público da tolerância e da liberdade. Podemos esperar que o tema volte às nossas discussões políticas com frequência.
Seria muito importante que os partidos políticos não perdessem isso de vista e educassem seus membros e simpatizantes na atividade de compreender como conviver na República com respeito e justiça, mesmo para com aqueles que julgam merecer sentar-se longe deles no esperado paraíso, ou até merecessem ir para o inferno. Certo que o sistema político está fragilizado. Mas é esperar o mínimo, e não o máximo, que em nome de nossa liberdade e igualdade se rejeitem os discursos religiosos que semeiam as divisões – e no médio prazo cultivam a violência -, primeiro morais e em seguida físicas, entre os cidadãos.
* Oscar Vilhena Vieira é professor de Direito Constitucional da Direito-FGV.
X Seminário LGBT – “Liberdades, abram as asas sobre nós”
0X Seminário LGBT, “Liberdades, abram as asas sobre nós”, dia 14 de maio às 14h, no auditório Nereu Ramos, Câmara dos Deputados.
Estão todos convidados para discutir sobre a relação entre liberdade de crença e liberdades individuais, com a presença de diversos líderes religiosos, acadêmicos e defensores dos Direitos Humanos. Compareçam!
Tribunal de Justiça do Maranhão decide pelo reconhecimento póstumo de maternidade socioafetiva
016/04/2013
Fonte: Assessoria de Comunicação do IBDFAM
Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens
0ABIA – Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS
CONVIDA para o encontro!
Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre Jovens
Inscrição livre / 50 vagas limitadas
A ABIA desenvolverá um Projeto apoiado pela M.A.C AIDS Fund. Em reconhecimento ao trabalho desenvolvidos pelos jovens nas suas comunidades, a ABIA realizará um encontro para apresentar o projeto que tem como objetivo trabalhar com lideranças comunitárias, grupos diversos, agentes e todas as pessoas que se identificarem com o desenvolvimento social de sua comunidade.
Esse projeto é a continuação de um programa iniciado em 1992 e que continua até hoje focando a diversidade sexual e a prevenção do HIV entre jovens gays, HSH, lésbicas, transgêneros e outros jovens vulneráveis que não são sexualmente minorias sexuais. Esse projeto trabalhará estigma e discriminação associado com a não normatividade sexual e de identidade de gênero.
Inscrição livre / 50 vagas limitadas
Apoio: M.A.C Fund
Coordenador do Projeto: Vagner de Almeida
Assistente do Projeto: Juan C. Raxach
Maiores informações pelos e-mails:
Local: Av. Presidente Vargas, 446, 13º andar. (Sede da ABIA)
Dia: 20 de maio de 2013
Horário: das 14h às 17h
Telefone: 21-2223-1040
Sistema Nacional de Enfrentamento à Violência LGBT entra em consulta pública
0Data: 08/04/2013
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) disponibiliza, a partir desta segunda-feira (08), para Consulta Pública, o Sistema Nacional de Enfrentamento à Violência LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais. O sistema tem como objetivo incentivar a instalação de Conselhos e Coordenadoras estaduais, distrital e municipais LGBTs, em todo o País.
O documento, que também deverá contribuir para a construção de políticas públicas de Promoção da Cidadania e Direitos de LGBT, ficará disponível para o recebimento de contribuições da sociedade civil até o dia 29 de abril. As sugestões em torno do tema devem ser enviadas para o e-mail:sistemanacionallgbt@sdh.gov.br.
Confira na íntegra dos documentos:
Sistema Nacional LGBT – Consulta Pública
A proposta de criação do Sistema é fruto de uma demanda do Conselho Nacional de Combate a Discriminação/LGBT.