No dia 29.07.2017 [1], a jornalista Mônica Bergamo divulgou que os editores do Guia Gay se opõem ao fim da cobrança diferenciada entre homens e mulheres em casas noturnas. A chamada da matéria, ao falar que “Gays querem preços mais caros para mulheres” em tais estabelecimentos, passa a impressão de que os gays em geral desejariam tal cobrança (como passou a diversas pessoas). Não obstante o início da matéria já esclareça que é a posição dos editores do Guia Gay (e só deles), numa era em que inúmeras pessoas não passam do título de notícias da mídia, entende-se que o título poderia ter evitado tal ambiguidade.

Sobre o tema, o GADvS – Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual e de Gênero, manifesta-se favoravelmente ao fim da cobrança diferenciada entre homens e mulheres em casas noturnas – e em estabelecimentos comerciais em geral.

O GADvS reforça que tal distinção de preços foi criada com o intuito machista de objetificar a mulher, em estabelecimentos comerciais voltados ao público heterossexual, para ter o maior número possível de mulheres à disposição dos homens que frequentam os espaços. A lógica é indignificante e, realmente, não merece acolhida.

Um dos editores do Guia Gay aduziu alegou que casas voltadas ao público de mulheres lésbicas e bissexuais utilizam-se da cobrança diferenciada para afastar o público masculino, donde a proibição a cobranças diferenciadas as prejudicariam. Mas, além de ser insensível à citada questão de objetificação da mulher heterossexual, o argumento é falacioso, pois basta os estabelecimentos terem uma equipe de seguranças (como devem ter) que fiscalizem o comportamento dos homens que eventualmente frequentem o local e estabeleçam pesadas multas a quem importunar as frequentadoras mulheres, por exemplo. Por outro lado, o simples fato de um estabelecimento se focar em determinado público, com programação específica a ele direcionada, tende a afastar outros públicos – e, de qualquer forma, há homens gays que gostam de ambientes voltados a mulheres lésbicas e bissexuais e vice-versa. Muitas mulheres heterossexuais apreciam casas noturnas voltadas ao público gay. E assim por diante. Logo, profundamente frágil e equivocado o argumento ora rebatido.

Ressalte-se que, indagados por Paulo Iotti, presidente do GADvS, também se opuseram a tal cobrança diferenciada Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI, Carlos Magno, então presidente da ABGLT (recentemente, foi eleita a ativista transexual Simmy Larrat para a presidência da ABGLT). Com a forma espirituosa que lhe é peculiar, Reis respondeu “meus produtos, mesmos valores; não à discriminação”.

Como se vê, não são os gays em geral que são favoráveis à cobrança diferenciada entre homens e mulheres, mas apenas alguns em particular. Essa conta, definitivamente, não pode ser imposta à comunidade gay como um todo.

 

[1] Cf.http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2017/07/1905393-editores-de-guia-gay-reclamam-de-preco-igual-para-homens-e-mulheres.shtml (acesso em 29.07.2017)